As portas ornamentadas da igreja se abriram com um estrondo ensurdecedor, e a vigília pacífica foi interrompida em um instante. Estupor e gritos encheram o espaço sagrado quando um lobo enorme entrou, com o pelo eriçado e os olhos brilhando à luz fraca das velas. Os fiéis congelaram, suas orações foram substituídas por um silêncio atônito.

As garras afiadas do lobo estalaram contra o piso de pedra enquanto ele se movia com passos deliberados, cada um deles ecoando pelo salão abobadado. Marianne, sentada perto do meio dos bancos, sentiu uma onda fria de pavor tomar conta dela. O olhar penetrante da fera se fixou no dela, congelando-a no lugar.

Um rosnado baixo saiu de seu peito, reverberando pelas paredes de pedra como um aviso. Os dentes afiados da criatura brilharam enquanto sua estrutura poderosa se movia para frente, passo a passo deliberado, em direção a Marianne. Cada instinto gritava para que ela corresse, mas ela não conseguia se mover – seus olhos estavam fixos nela, selvagens e cheios de perigo.

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Marianne caminhou rapidamente pelo estreito caminho de paralelepípedos que levava à igreja, com o ar da noite mordiscando suas bochechas. Ela segurou o xale firmemente em volta dos ombros, o brilho quente dos vitrais da igreja a chamando para seguir em frente. Tinha sido um longo dia e ela encontrava consolo nesses momentos tranquilos antes da vigília noturna.

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O som familiar dos sinos tocando suavemente na torre acima trouxe um pequeno sorriso aos seus lábios. A igreja era seu santuário, um lugar onde as preocupações do mundo desapareciam sob a luz suave das velas e a cadência reconfortante das orações sussurradas.

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Ao passar pelas pesadas portas de madeira, Marianne foi recebida pelo aroma de madeira polida e incenso, uma mistura que sempre parecia lhe servir de base. Alguns fiéis já estavam espalhados entre os bancos, com as cabeças inclinadas em contemplação silenciosa. Ela acenou com a cabeça para o irmão Paul, que estava acendendo velas perto do altar, com o rosto sereno e concentrado.

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Tomando seu assento habitual perto do meio da capela, Marianne fechou os olhos e soltou um longo suspiro. O peso do dia pareceu se dissipar um pouco quando ela se acomodou na atmosfera calma.

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Ao longo dos anos, a igreja havia se tornado um farol para os necessitados. Seja abrigando os sem-teto, organizando campanhas de arrecadação de alimentos ou simplesmente oferecendo um ouvido atento, a igreja era um refúgio em todos os sentidos da palavra.

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Marianne abriu seu hinário e seus dedos traçaram as bordas desgastadas das páginas. Ela estava perdida em seus pensamentos, ponderando sobre a escritura da noite, quando um som desconhecido quebrou sua concentração – um farfalhar distante, mas agudo, como se algo se movesse rapidamente nas sombras do lado de fora.

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Ela olhou em direção às grandes portas, sua curiosidade foi aguçada. O irmão Paul percebeu sua distração e seguiu seu olhar. “Provavelmente é o vento”, ele sussurrou tranquilizadoramente, embora uma leve ruga de preocupação estivesse em sua testa.

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Marianne assentiu com a cabeça, tentando se livrar da sensação de desconforto que se insinuava em seu peito. Ela voltou sua atenção para o hinário, mas a sensação de calma foi passageira. O som ficou mais alto, agora acompanhado pelo ranger distinto de cascalho sob os pés.

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A pulsação de Marianne se acelerou. Ela virou a cabeça para as portas no momento em que elas estremeceram sob uma força invisível. Então, as portas se abriram. Um lobo selvagem atravessou as portas ornamentadas. Os adoradores se levantaram em choque quando o espaço sagrado de repente se transformou em um caos.

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O medo tomou conta da multidão e alguns tentaram fugir. Outros se agacharam atrás dos bancos, tremendo em oração silenciosa. Apesar do pandemônio, Marianne notou algo estranho: o lobo carregava uma pequena forma em sua boca, agarrada gentilmente em suas mandíbulas. Não se assemelhava a uma presa típica, o que despertou a curiosidade e a preocupação de Marianne.

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Presa entre a cautela e a compaixão, Marianne permaneceu imóvel, com o coração martelando contra a caixa torácica. Ela não conseguia tirar os olhos do lobo, cujos ombros largos subiam e desciam a cada respiração tensa. O silêncio da descrença encheu a igreja, espesso como incenso. O que diabos ele estava carregando?

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O irmão Paul, o administrador principal da igreja, entrou correndo com uma lanterna, pedindo que todos permanecessem calmos. “Por favor, dirijam-se à saída!”, instruiu ele, com a voz ecoando nas colunas de pedra. Um turbilhão de vestes e passos em pânico logo obstruíram o corredor, a multidão se apressando para seguir sua orientação.

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No entanto, Marianne sentiu uma atração interior que não podia negar. Ela observou a postura do lobo: ele não estava atacando, apenas guardando o pequeno embrulho em sua boca. Seus instintos lhe diziam que aquilo era mais do que uma simples intrusão.

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Reunindo uma coragem inesperada, Marianne se aproximou do lobo. Lentamente, ela ergueu as duas mãos para mostrar que não queria fazer mal. Sua mente se encheu de possíveis resultados. Sua mente se preocupou com os possíveis resultados – o lobo atacaria ou mostraria confiança? Quando ela se aproximou, o ar crepitou de tensão.

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O olhar de aço do lobo se fixou em Marianne, com os músculos enrolados como cordas de arco. Um movimento errado poderia desencadear sua ferocidade. No entanto, havia um brilho em seus olhos que denotava desespero, não uma raiva sem sentido. O coração de Marianne bateu forte. Ela engoliu com força, determinada a descobrir a verdade por trás desse encontro bizarro.

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Um rosnado baixo ressoou pela igreja, ecoando no teto alto. Marianne fez uma pausa, observando cuidadosamente o humor do lobo. Ela se ajoelhou lentamente, tentando parecer não ameaçadora. Apesar do medo, sua curiosidade aumentou. A postura do lobo indicava uma aliança incômoda, como se estivesse implorando por ajuda, mas pronto para se defender.

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Marianne notou que o objeto na boca do lobo parecia vivo – alguma criatura frágil. Seu pelo estava emaranhado e ele soltava gemidos fracos. Naquele momento, Marianne percebeu que o lobo não tinha vindo para fazer mal; ele tinha vindo em busca de refúgio para a vida vulnerável que carregava.

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A essa altura, a igreja inteira estava quase vazia. Apenas alguns espectadores e funcionários permaneciam, amontoados perto da entrada. O irmão Paul se juntou a Marianne, sussurrando com urgência: “Precisamos pedir ajuda. Isso é perigoso” No entanto, Marianne sentiu a urgência do lobo e acreditou que eles poderiam ser a única salvação para aquela pequena vida.

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Mais uma vez, o lobo soltou um rosnado ameaçador, fazendo com que o irmão Paul se afastasse. Marianne se manteve firme, concentrando-se em sua respiração. Ela notou lágrimas brotando em seus próprios olhos; não sabia dizer se por medo ou empatia. O que ela sabia era que tinha de agir.

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Reunindo sua coragem, Marianne gentilmente estendeu a mão, com a palma voltada para cima. “Queremos ajudar”, disse ela suavemente, embora sua voz estivesse trêmula. As orelhas do lobo se contraíram enquanto ele processava suas palavras. Por um momento, a tensão diminuiu, como se o lobo reconhecesse uma intenção compartilhada: proteger a frágil criatura embalada em suas mandíbulas.

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O irmão Paul, sentindo que poderia fazer mais mal do que bem com sua presença ansiosa, se afastou. Ele ligou para as autoridades locais, explicando a cena bizarra. “Um lobo invadiu a igreja”, disse ele sem fôlego, “e parece estar carregando um animal ferido” Do outro lado, um silêncio atônito.

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Marianne se aproximou, com os batimentos cardíacos ecoando em seus ouvidos. O lobo a observou com cautela, mas não fez nenhum movimento para atacar. Em um sussurro suave, ela falou: “Precisamos levar você e seu amigo para um lugar seguro”

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Movida pelo instinto, Marianne usou a quietude silenciosa para guiar o lobo até uma pequena capela lateral. Era uma área fechada, geralmente usada para orações particulares. Ela esperava que fosse um espaço mais calmo e que lhes desse um momento para pensar. O irmão Paul o seguiu, mas permaneceu a uma distância cautelosa.

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O clique da porta se fechando atrás deles pareceu definitivo, trancando Marianne, o irmão Paul e o lobo juntos no espaço apertado. Agora, começava um tipo diferente de vigília, carregada de tensão e incerteza. Na luz fraca, Marianne podia ver os olhos do lobo com mais clareza.

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Eles brilhavam com terror e determinação. Seu pelo se eriçava e suas patas enormes se retesavam como se estivessem prontas para saltar. No entanto, ele se manteve firme, ainda apoiando a criatura trêmula na boca. O coração de Marianne se apertou com a visão.

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Com cuidado, Marianne pegou uma vela votiva que estava próxima. Ela queria mais luz para ver se o animal estava muito machucado. O lobo rosnou suavemente, um lembrete para que não se movesse com muita pressa. Os nós dos dedos do irmão Paul estavam brancos quando ele agarrou a maçaneta da porta, preparado para se retirar rapidamente se as coisas dessem errado.

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Marianne acendeu uma vela, com a pequena chama tremeluzindo e lançando sombras dançantes nas paredes. Lentamente, ela a colocou em um suporte baixo. O olhar do lobo seguiu a luz, mas ele não se afastou. Parecia sentir que a intenção de Marianne não era a agressão, mas a compaixão.

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À luz da vela, Marianne pôde ver que o pequeno animal tinha o flanco ferido. Faltavam pedaços de pelo e sua respiração era superficial. Essa descoberta aumentou a urgência de Marianne. Ela pensou em como o lobo devia estar assustado e protetor, trazendo um animal ferido para um santuário humano.

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O irmão Paul finalmente criou coragem para falar. “Precisamos de suprimentos médicos. Precisamos encontrar bandagens, antissépticos… algo que ajude a estancar o sangramento.” Ele olhou para o lobo, sem saber como ele reagiria se eles saíssem para pegar o que precisavam. Marianne assentiu com a cabeça, engolindo o nó na garganta.

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Marianne levantou as duas mãos, gesticulando em direção à porta. Ela esperava comunicar que precisava sair rapidamente. O lobo soltou um rosnado baixo de advertência. Seus olhos amarelos brilhavam com uma proteção feroz, como se temesse que deixar Marianne ir embora pudesse selar o destino de seu companheiro ferido.

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Mesmo assim, Marianne continuou, com um tom suave. “Eu voltarei. Eu prometo”, ela sussurrou. As orelhas do lobo se animaram, quase como se ele entendesse Marianne de alguma forma. Com uma pausa tensa, ele permitiu que Marianne saísse da capela.

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No corredor, o irmão Paul rapidamente instruiu alguns voluntários restantes a fechar a entrada principal, garantindo que ninguém mais corresse perigo. Enquanto isso, Marianne correu para um pequeno armário de suprimentos que a igreja mantinha para a comunidade – bandagens, desinfetante e cobertores para os sem-teto estavam armazenados lá.

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Pegando tudo o que podia carregar, Marianne voltou para a capela. Sua respiração ficou suspensa quando ela entrou. O lobo e o pequeno animal estavam exatamente como ela os havia deixado. O lobo a olhou com cautela, mas, dessa vez, seu rosnado foi contido.

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Colocando os suprimentos em um banco próximo, Marianne se ajoelhou no chão de pedra. Ela abriu o frasco de antisséptico e passou um pano com cuidado. O lobo ficou tenso com o cheiro forte. O irmão Paul estava por perto, inquieto, mas pronto para ajudar. Em silêncio, Marianne se aproximou do filhote, avaliando a reação do lobo.

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Um momento tenso se estendeu como uma eternidade. Então, lentamente, o lobo se afastou do animal ferido no chão. Uma onda de alívio tomou conta de Marianne – esse era um sinal de permissão. Com cuidado, ela pressionou o pano sobre o ferimento, o animal estremeceu um pouco, mas estava fraco demais para protestar.

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O irmão Paul entregou a Marianne um rolo de bandagens. Ela enfaixou o flanco do animal com as mãos trêmulas, esperando a cada segundo que o lobo se encolhesse em fúria protetora. No entanto, o lobo ficou apenas observando, ofegando suavemente, com o olhar passando entre o rosto de Marianne e o animal, como se estivesse avaliando a intenção de cada movimento.

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O tempo todo, a igreja parecia carregada de tensão. Cada passo no corredor do lado de fora, cada leve arrastar dos voluntários, fazia com que as orelhas da mãe loba se contraíssem. O irmão Paul se movia lentamente, certificando-se de não fazer gestos bruscos. A atmosfera era frágil.

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Por fim, a bandagem improvisada foi fixada. Marianne olhou para o lobo, as lágrimas mais uma vez ameaçando cair de seus olhos. Ela acariciou gentilmente a cabeça do animal, sentindo sua respiração superficial, mas constante. “Estamos aqui para ajudar”, ela sussurrou, lançando um olhar reconfortante para o lobo.

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Do lado de fora da capela, um policial solitário chegou primeiro, com a lanterna na mão e a outra mão apoiada cautelosamente em seu coldre. Seu rosto era uma mistura de determinação e inquietação quando o irmão Paul se apressou em encontrá-lo.

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“Um lobo invadiu a igreja”, explicou o irmão Paul, sem fôlego, apontando para as portas fechadas da capela. “Marianne está lá dentro com ele. Ela trouxe um animal ferido. Por favor, não faça nenhum movimento brusco.”

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A sobrancelha do policial se franziu. “Um lobo? Em uma igreja? Isso não é apenas perigoso – é um desastre esperando para acontecer.” Sua voz era calma, mas firme, e ele apertou o cinto com mais força. “Minha primeira prioridade é a segurança pública. Se houver um indício de perigo, tenho de agir.”

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O irmão Paul balançou a cabeça, baixando a voz em um apelo desesperado. “Ele não atacou ninguém. Marianne acredita que ele está aqui para ajudar. Por favor, dê a ela tempo para lidar com isso. Se o assustarmos, pode haver derramamento de sangue. Ela está mantendo a situação sob controle.”

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Dentro da capela, Marianne estremeceu quando o lobo rosnou baixinho, seus olhos se voltando para os sons abafados da conversa do lado de fora da porta. A tensão no ar era palpável, cada músculo do lobo estava tenso enquanto ele se mantinha protetoramente sobre a pequena criatura ferida.

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A porta da capela se abriu ligeiramente e o policial entrou, sua lanterna varrendo a sala antes de pousar no lobo. Sua respiração ficou presa. O lobo rosnou, dando um passo à frente para proteger seu filhote, e o policial instintivamente pegou sua arma tranquilizante.

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“Não!” Marianne gritou, colocando-se entre o policial e o lobo. Seus braços estavam estendidos, seu corpo era uma barreira. “Por favor, não! Você só vai piorar a situação!” O policial gritou: “Senhora, afaste-se!”, com a voz firme, mas cheia de urgência.

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“Não quero machucá-lo, mas se ele atacar, não terei escolha. A vida humana vem em primeiro lugar – você sabe disso.” A voz de Marianne tremeu, mas sua determinação era inabalável. “Olhe para ele! Ele não está atacando – está com medo.

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Os rosnados do lobo se transformaram em um gemido baixo, sua cauda balançando nervosamente enquanto ele olhava para Marianne. “Está vendo?”, disse ela, com a voz mais calma agora, quase suplicante. “Ele está confiando em mim. Não podemos trair isso.” A tensão na sala era insuportável.

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A mão do policial pairou sobre sua arma, sua mandíbula se contraiu. Finalmente, ele soltou um suspiro lento e baixou o braço. “Eu vou me conter”, disse ele com relutância, “mas não posso garantir o mesmo se as coisas piorarem”

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Marianne assentiu com a cabeça, seus ombros relaxaram um pouco. “Obrigada”, disse ela suavemente. Voltando para o lobo, ela se ajoelhou, mantendo seus movimentos lentos e deliberados. “Nós vamos ajudá-lo”, ela sussurrou. “Apenas nos mostre o que você precisa.”

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O policial observou, com a lanterna firme, Marianne colocar a mão gentilmente sobre o cobertor, oferecendo-o ao lobo. Para sua surpresa, o lobo não atacou. Em vez disso, empurrou a trouxa para perto de Marianne, com os olhos cheios de algo que quase se assemelhava a confiança.

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Por um momento, a postura dura do oficial se suavizou. “Você é mais corajosa do que eu jamais seria”, murmurou ele. Marianne olhou por cima do ombro com um leve sorriso. “Não se trata de coragem. Trata-se de ver o medo por trás das presas.”

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O lobo, sentindo a mudança na sala, soltou um leve bufo antes de se virar para a porta. Seu olhar se fixou no de Marianne, incitando-a silenciosamente a segui-lo. “Ele está nos levando a algum lugar”, disse ela, levantando-se. “Temos que ir com ele.”

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O policial deu um passo à frente, bloqueando a porta. “Você não pode estar falando sério. Essa coisa pode nos levar a uma emboscada – ou pior.” Marianne o olhou nos olhos, com a voz firme. “Se quisesse nos machucar, já teria feito isso. Por favor, confie em mim.”

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O policial hesitou, depois finalmente suspirou e se afastou. “Eu vou com você, mas se as coisas derem errado, vou pedir reforços.” Marianne assentiu, um lampejo de gratidão cruzando seu rosto. Juntos, eles seguiram o lobo noite adentro, com as portas da capela se fechando atrás deles.

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Além das portas da igreja, a luz da lua banhava o pátio com um brilho prateado. Estátuas de santos e anjos pareciam observar enquanto Marianne seguia o lobo pelos paralelepípedos. O lobo os conduziu pelo portão da igreja e por um caminho estreito cercado por sebes altas.

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O ar noturno estava fresco e o grupo ficou em silêncio. Cada farfalhar de folhas, cada raspar de sapato contra o cascalho, parecia amplificado no silêncio tenso. Eles continuaram por uma rua sinuosa, guiados pelos passos seguros do lobo.

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Mais longe do brilho dos postes de luz, a escuridão se tornou mais densa, pressionando por todos os lados. Somente o ritmo constante do lobo lhes dava direção. Cada passo aumentava a sensação de que algo urgente os aguardava em seu destino.

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Por fim, chegaram à borda de uma floresta densa que se erguia como uma grande e silenciosa sentinela. A loba fez uma pausa, voltando seu olhar aguçado para os humanos atrás dela. Seu peito pesava, cada respiração era um testemunho tanto da exaustão quanto da determinação inabalável.

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O lobo entrou na floresta, desaparecendo entre os troncos grossos. Marianne o seguiu de perto. O policial, preocupado, fez sinal para que os demais ficassem alertas. O grupo seguiu em frente, com as lanternas atravessando a escuridão, revelando uma tapeçaria de raízes retorcidas e galhos balançando.

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À medida que se aventuravam mais fundo, uma sensação de pavor se apoderava deles. Sob a copa das folhas, a luz da lua era fraca, substituída pelo brilho das lanternas. O vento sussurrava entre os pinheiros, uma canção de ninar misteriosa que deixava todos nervosos. Mesmo assim, o lobo os conduziu mais fundo.

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De repente, um ruído agudo ecoou entre as árvores – um gemido de dor. O lobo respondeu com um uivo baixo e o estômago de Marianne se apertou. Algo ou alguém estava ferido nas proximidades. O grupo trocou olhares ansiosos e depois se apressou, passando por galhos que prendiam suas roupas.

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Os gemidos ficaram mais altos, formando um coro macabro com os gritos de resposta do lobo. Finalmente, chegaram a um buraco embaixo de um enorme carvalho. O feixe da lanterna de Marianne revelou um buraco aberto na base da árvore. Na escuridão, ela podia apenas distinguir o movimento em seu interior.

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Aproximando-se com cautela, elas descobriram uma toca escondida. Em seus recônditos sombrios havia mais animais, contorcendo-se e miando de aflição. Um deles parecia particularmente fraco e precisava de ajuda imediata. A loba choramingava, cutucando o focinho para dentro, mas claramente precisava de ajuda humana.

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O irmão Paul, momentaneamente congelado pela visão de tantos animais pequenos e estranhos, finalmente agiu. Ele se ajoelhou e gentilmente retirou a criatura presa, liberando sua perna machucada. O pequeno soltou um grito agudo antes de cair mole em suas mãos, exausto.

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Um a um, eles verificaram os animais. Alguns estavam apenas com frio e assustados, mas outros tinham cortes e hematomas. O tempo parecia impossivelmente lento enquanto eles administravam o auxílio básico que podiam, enfaixando os ferimentos com sobras de suprimentos e usando cobertores quentes do estoque da igreja.

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Depois de avaliarem a situação, Marianne percebeu que os animais não conseguiriam sobreviver aqui fora no estado em que se encontravam. Eles precisavam de cuidados mais abrangentes. Um veterinário local era uma opção, mas será que a mãe loba permitiria que eles fossem transferidos? Uma onda de ansiedade tomou conta de Marianne.

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Trocando um olhar determinado com o irmão Paul, Marianne concluiu que eles tinham que tentar. “Temos que levá-los de volta para a igreja”, disse ela, com a voz trêmula, tanto de medo quanto de determinação. “É o lugar mais próximo com espaço e recursos suficientes para ajudar.”

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Respirando fundo, Marianne levantou gentilmente o animal mais ferido. O lobo soltou um rosnado baixo, mas não tão ameaçador quanto antes. Lentamente, os outros reuniram os animais restantes, enrolando-os em cobertores. O lobo os observava atentamente, andando de um lado para o outro como se estivesse travando uma batalha interna.

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O retorno deles à igreja foi lento e tenso. De vez em quando, o lobo emitia um uivo lamentoso, como se estivesse pedindo aos humanos que fossem mais rápidos. As criaturas estavam em silêncio agora, exaustas demais para emitir qualquer som. Marianne rezou para que eles pudessem aguentar até que os cuidados adequados fossem administrados.

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Finalmente, eles chegaram ao pátio da igreja. Um pequeno grupo de pessoas da cidade ficou observando, com os olhos arregalados diante da visão surreal da procissão carregando animais feridos. Sussurros se espalharam pela multidão, alimentados tanto pela preocupação quanto pelo medo.

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O grupo entrou na igreja com cautela, os animais envoltos em cobertores quentes, com seus pequenos corpos mal se mexendo. A loba os seguia de perto, com seus olhos afiados passando entre seus filhotes e os humanos que os manuseavam.

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Marianne os conduziu até a capela lateral, onde tudo havia começado. O espaço silencioso agora parecia transformado – um santuário não apenas para a oração, mas para a cura. Ela e o irmão Paul colocaram cuidadosamente os animais em um grande cobertor estendido no chão. “O que são eles?”, sussurrou o irmão Paul.

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O veterinário, que havia corrido para lá depois de ouvir sobre o drama que se desenrolava, chegou momentos depois com uma sacola de suprimentos. Ele se aproximou com cautela, falando em tom suave. “Farei o que puder”, assegurou a Marianne. “Vamos nos concentrar em estabilizá-los primeiro.”

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O lobo soltou um rosnado baixo quando o veterinário se ajoelhou ao lado dos animais. Marianne se aproximou rapidamente, acariciando gentilmente o pelo do lobo. “Está tudo bem”, ela sussurrou. “Ele está aqui para ajudar.” A loba hesitou, mas não o impediu, o olhar dela se movendo entre o homem e as criaturas feridas.

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Sob as mãos habilidosas do veterinário, os animais receberam seus primeiros cuidados reais. Ele limpou ferimentos, tratou infecções e examinou os mais fracos entre eles. A loba observava atentamente, com suas orelhas se mexendo a cada movimento.

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As horas se passaram, mas a atmosfera foi se acalmando à medida que os animais mostravam sinais de melhora. O mais fraco, cuja respiração era superficial e difícil, soltou um ganido suave. Era o menor dos sons, mas encheu a sala de esperança. Marianne sorriu, seu coração se encheu de alívio.

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As pessoas da cidade que haviam se reunido do lado de fora começaram a entrar na igreja, sua curiosidade e preocupação superando o medo inicial. Eles ficaram a uma distância respeitosa, maravilhados com a visão do lobo selvagem deitado protetoramente ao lado das criaturas.

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Ao amanhecer, os primeiros raios de sol atravessaram os vitrais, lançando um caleidoscópio de cores no chão da capela. Os animaizinhos se agitaram, seus corpos minúsculos agora estavam quentes e visivelmente mais fortes. O lobo, embora cansado, irradiava um contentamento tranquilo.

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O veterinário terminou seu trabalho e se levantou, dirigindo-se a Marianne e ao irmão Paul. “Eles precisarão de cuidados contínuos, mas estão estáveis por enquanto. Vou providenciar a transferência deles para um santuário de vida selvagem, onde poderão se recuperar totalmente e, eventualmente, retornar ao seu habitat natural.”

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Marianne assentiu, com o coração ao mesmo tempo pesado e cheio. Ela se ajoelhou ao lado do lobo, que a olhava com uma intensidade que parecia quase humana. “O que eles são?” Marianne sussurrou. “Um cruzamento entre um lobo e um cachorro, por isso você não conseguiu distingui-los”, respondeu o veterinário, com um sorriso orgulhoso após um trabalho bem feito.

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Quando a equipe do santuário chegou, os filhotes foram gentilmente colocados em caixas seguras forradas com cobertores. A mãe loba hesitou, claramente dividida entre o instinto de proteger seu território e a compreensão de que seus filhotes estavam em boas mãos. Por fim, ela entrou em um caixote ao lado deles, com sua fé nesses humanos inabalada.

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Enquanto a van do santuário se afastava, as pessoas da cidade permaneceram em silêncio e admiradas. Marianne observou até que o veículo desaparecesse na pista, com um nó na garganta. O irmão Paul colocou uma mão tranquilizadora em seu ombro. “Você fez algo incrível esta noite”, disse ele suavemente. “Você salvou vidas.”

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Nos dias que se seguiram, a história da loba e de seus filhotes se espalhou por toda parte. A igreja se tornou um símbolo de esperança e compaixão, um lugar onde até mesmo as criaturas mais selvagens encontravam refúgio. Doações foram feitas para apoiar o santuário, e Marianne recebeu inúmeras mensagens de gratidão e admiração.

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