Certa noite, após um dia particularmente exaustivo, Emily estava prestes a se deitar na cama quando ouviu um ruído estranho e fraco. Era um som suave e raspante, como se algo estivesse roçando suavemente na madeira. Seu corpo congelou e seu coração acelerou. Alguém – ou alguma coisa – estava dentro da casa?
Ela ficou ali, sentindo como se o tempo tivesse parado, com os olhos voltados para o corredor, esperando que uma sombra aparecesse. Quando nada aconteceu, ela forçou uma risada nervosa. “Provavelmente é só o vento”, ela se tranquilizou. “Ou aqueles canos velhos rangendo de novo.”
Mas quando ela finalmente se acomodou na cama, o ruído voltou – um raspar constante, quase rítmico. Era fraco, quase inaudível, mas o suficiente para atiçar sua imaginação. “Chega de filmes de terror antes de dormir”, murmurou ela, puxando o cobertor sobre a cabeça.
A vida de Emily havia se transformado em um ciclo interminável de palestras, correção de trabalhos e lidar com um fluxo constante de perguntas dos alunos. Como professora de história, muitas vezes ela se perdia no passado – tanto em suas aulas quanto em sua vida pessoal.

Desde que seus pais faleceram, a casa onde ela cresceu se tornou sua responsabilidade. Embora a casa guardasse inúmeras lembranças, ela também parecia um fardo pesado – um lugar velho cheio de tarefas, reparos e um silêncio estranho que preenchia as noites solitárias.
Entre dar aulas e administrar a casa, Emily mal tinha um momento para recuperar o fôlego. Seus fins de semana eram consumidos por tarefas como cortar a grama, consertar torneiras com vazamentos e organizar o sótão.

Enquanto trabalhava, sua mente se enchia de pensamentos sobre planos de aula e perguntas dos alunos. Cada canto da casa era um lembrete de seus pais, trazendo lembranças agridoces que lhe tocavam o coração.
Mas hoje, ela se viu presa, incapaz de se livrar do barulho sinistro que permanecia ao fundo e a impedia de dormir. Emily se sentia confusa, mas, mais do que isso, estava assustada. Enquanto o som estranho continuava, Emily se mexeu desconfortavelmente na cama, tentando desesperadamente se distrair.

Ela começou a contar de 100 para trás, depois passou a resolver problemas matemáticos aleatórios em sua cabeça. Começou a cantarolar melodias bobas, tentando bloquear o som e descartá-lo como se sua mente estivesse pregando peças nela.
Talvez fosse apenas um inseto? A ideia a fez rir novamente, mas, no fundo, o mistério do barulho permanecia, recusando-se a deixá-la dormir facilmente. Em um determinado momento, ela até começou a inventar letras bobas de músicas imaginárias, murmurando-as suavemente para abafar o barulho sinistro.

“É só o vento”, ela sussurrou para si mesma. “Ou talvez seja um fantasma me assombrando por algum motivo?” Ela riu de seus próprios pensamentos ridículos, mas o aperto no peito não ia embora.
A exaustão finalmente venceu e, embora ela se sentisse ansiosa, caiu em um sono agitado. Na noite seguinte, quando estava se acomodando na cama, o som voltou – dessa vez mais alto. Um calafrio percorreu sua espinha. Ao se sentar, examinou os cantos escuros do quarto, com o coração acelerado.

Ela não conseguia se livrar dos pensamentos que passavam por sua mente: sua casa era assombrada? Emily pegou seu telefone, procurando freneticamente por explicações lógicas. “Tábuas do assoalho rangendo… mudanças de temperatura… casas antigas fazem barulhos estranhos”, ela murmurou para si mesma enquanto folheava artigos, tentando se tranquilizar.
Mas o som era real demais, consistente demais, deixando-a mais perturbada do que a lógica poderia resolver. Na quarta noite, Emily sentiu que estava começando a ceder. O sono não era mais um conforto; ele havia se transformado em um campo de batalha entre seus pensamentos racionais e sua imaginação selvagem.

Ela percebeu que não poderia continuar ignorando os ruídos por mais tempo. Então, durante o almoço do dia seguinte, ela decidiu conversar com Doug, um colega do departamento de história. “Doug, acho que estou enlouquecendo”, admitiu Emily, com a voz um pouco trêmula.
“Todas as noites, ouço esse barulho de arranhão. Parece que algo está se movendo dentro da casa, mas não consigo descobrir de onde vem.” Doug levantou uma sobrancelha, ainda mastigando seu sanduíche. “Arranhando? À noite?” Ele sorriu.

“Talvez sua casa seja mal-assombrada! Pode ser um fantasma antigo voltando para pegá-la por algum erro de infância.” Emily forçou uma risada, mas a piada de Doug não aliviou sua ansiedade. “Já verifiquei em todos os lugares”, suspirou ela, sentindo-se frustrada.
“É que é… tão estranho. Isso está me deixando louca.” Doug sorriu e balançou as sobrancelhas de forma brincalhona. “Talvez seja mesmo um fantasma! Mais tarde naquela noite, quando o barulho voltou, Emily decidiu que não iria mais se esconder debaixo das cobertas.

Ela pegou sua lanterna e começou a investigar. Sentindo-se um pouco boba, ela se agachou para olhar embaixo da cama. A luz piscou quando ele a apontou para a escuridão, e ela sentiu o coração disparar. Tudo parecia ridículo, mas ele ainda estava nervoso.
De repente, algo se moveu e Emily deu um pequeno grito, recuando surpresa. Ao olhar mais de perto, ela percebeu que era apenas uma meia perdida presa em uma corrente de ar. “Acalme-se, Emily”, ela murmurou para si mesma. “Você está surtando por causa de uma meia.”

Respirando fundo, ela se levantou, com o coração ainda batendo no peito. Em seguida, Emily foi até o armário. Seus dedos pairaram sobre a maçaneta por um momento, mas quando ela finalmente a abriu, tudo o que viu foram casacos velhos e caixas empoeiradas.
O barulho estranho, porém, continuou a provocá-la, ecoando levemente pelas paredes. Respirando fundo, Emily foi na ponta dos pés até o corredor, tentando seguir o som. Ele a levou até a cozinha.

Seus nervos estavam à flor da pele enquanto ela examinava o cômodo, meio esperando que algo saltasse sobre ela. Mas nada aconteceu. Ela espiou atrás da geladeira, verificou os armários e até moveu alguns potes de temperos, mas tudo parecia completamente normal.
De repente, um frasco de detergente de louça tombou e se derramou no chão. Assustada, Emily gemeu: “Ótimo”, murmurou, esfregando a cabeça dolorida depois de batê-la contra a porta do armário. “Agora o sabão está me atacando.”

Ela se endireitou bem a tempo de ouvir um leve ruído de barulho acima dela. Instintivamente, ela deu um pulo para trás, apenas para bater a cabeça novamente. “Sério?!”, ela disse, sentindo-se mais frustrada do que assustada.
Esfregando a cabeça dolorida, ela percebeu que a exaustão e a irritação haviam finalmente superado o medo. Apesar de seus esforços, o som continuava escapando dela, levando-a de um canto a outro da casa.

Ela procurou na sala de estar, no banheiro e até mesmo na garagem, mas o barulho parecia provocá-la, ficando sempre fora de alcance e desaparecendo sempre que ela chegava perto. Depois de mais uma hora de buscas sem sucesso, Emily finalmente desistiu por aquela noite.
Ela se afundou em uma cadeira, olhando para o teto, sentindo como se a casa a estivesse provocando. Quando ela estava prestes a ir para a cama, o som voltou – dessa vez mais alto e mais exigente. Ele ecoou pela sala de estar, vindo de cima.

O coração de Emily se acelerou ao seguir o barulho, que a levou diretamente para o sótão. A escotilha para o sótão estava intocada há anos, envolta em uma espessa camada de poeira. Emily hesitou por um momento, com os olhos fixos nela.
As palmas de suas mãos ficaram úmidas, e ele pôde sentir seu coração acelerado. Será que o barulho estranho que ela estava ouvindo poderia estar vindo de lá de cima o tempo todo? Respirando fundo, ela pegou a lanterna e puxou a corda para descer a escada que estava rangendo.

Cada degrau parecia mais pesado do que o anterior, como se o peso do mundo a estivesse pressionando. Ao subir no sótão, o som fraco de arranhões que ela havia ouvido antes ficou mais alto, ecoando na quietude.
“Alô?”, gritou ela, com a voz trêmula e sentindo-se absurdamente pequena no vasto espaço. “Tem alguém aqui em cima?” O feixe de luz de sua lanterna varreu o loft, lançando sombras sinistras que dançavam sobre as caixas velhas e os móveis esquecidos.

Por um breve momento, tudo ficou parado, e Emily não pôde deixar de se sentir um pouco ridícula por esperar que algo incomum estivesse lá em cima. Mas, no fundo, ela sabia que tinha que descobrir o que estava fazendo aquele barulho.
A curiosidade ardia dentro dela, misturando-se com um lampejo de medo, impulsionando-a para o desconhecido. Emily olhou para o loft, tentando reunir coragem para subir a escada que rangia. O ar parecia pesado e denso com o silêncio, quase zombando dela.

A lanterna em seu punho tremeluzia, como se também estivesse nervosa. Respirando fundo, ela começou a subir, cada degrau fazendo a madeira velha gemer sob seu peso. No momento em que chegou ao topo, uma onda de ar viciado a atingiu, com poeira e o cheiro de lembranças há muito esquecidas.
Quando ela estava prestes a recuar, pensando que tudo não passava de um truque de sua imaginação, o som voltou – mais alto e mais urgente dessa vez. Um suave embaralhar ecoou do canto mais distante. Sua respiração ficou presa na garganta, e um suor frio brotou em sua testa.

O coração de Emily acelerou, batendo forte em seu peito enquanto sentia uma súbita onda de pânico. Em um momento de puro pavor, ela quase perdeu o equilíbrio na escada, ficando perigosamente perto de cair.
Desesperada para escapar do barulho sinistro, ela subiu rapidamente, fechando a porta atrás de si e trancando-a apressadamente com a velha cadeira de madeira que rangeu com a pressão. Ela se encostou na porta, tentando acalmar seu coração acelerado.

Enquanto permanecia ali, o som perturbador se dissipou, deixando-a em um silêncio pesado, quebrado apenas pelo bater de seu coração. Ela olhou para o corredor escuro, tentando reunir coragem.
Talvez fosse apenas o vento, ou talvez algo tivesse caído. No entanto, no fundo, ela sabia que não podia mais ignorar o fato. No dia seguinte, quando amanheceu e a primeira luz entrou pelas cortinas, Emily decidiu investigar.

Ela se aventurou a descer as escadas com cautela, com os sentidos aguçados. A casa ainda parecia envolta em escuridão, mas pelo menos ela podia ver um pouco melhor agora. Segurando uma perna da mesa que havia pegado para se proteger, ela se moveu cautelosamente pela cozinha, pronta para o que quer que ele pudesse encontrar à espreita nas sombras.
Ela pegou o velho taco de beisebol do pai no armário. Ele estava acumulando poeira há anos, mas o peso dele em suas mãos a tranquilizou ao se aproximar da fonte do barulho. O que quer que a aguardasse, ela estava determinada a enfrentá-lo de frente.

Afinal, ela não podia deixar o medo dominar sua vida, especialmente em sua própria casa. Algo se mexeu embaixo de uma pilha de caixas empoeiradas, fazendo com que uma nuvem de poeira se espalhasse pelo ar. O coração de Emily acelerou enquanto ela se aproximava cautelosamente, com a lanterna tremendo em sua mão.
A cada passo, o som ficava mais alto, como se o que quer que estivesse escondido ali estivesse esperando que ela o descobrisse. Ela parou por um momento, sentindo a pulsação batendo nos ouvidos, depois se inclinou, mantendo a lanterna firme.

“Saia, ou vou chamar a polícia!” Emily gritou, tentando manter o controle da situação. Enquanto ofegava pesadamente, ela percebeu que o barulho havia parado. “Eu sei que você pode me ouvir. Vamos acabar com esse jogo”, disse ela, mas só havia silêncio.
Nenhum som estranho ecoou de volta, apenas o rangido fraco da velha casa se acomodando. Frustrada, Emily começou a procurar seu velho abajur, esperando que sua luz pudesse lhe dar algum conforto. Ela remexeu na bagunça do corredor escuro, lembrando-se de como seus pais sempre mantiveram tudo organizado.

Ela mal conseguia reconhecer o espaço; parecia estranho e caótico. No momento em que encontrou o abajur e o acendeu, um “thud, thud” alto a fez sentir um choque de medo, fazendo-a dar um pulo para trás.
Com o coração acelerado, ela fugiu pelo corredor, sentindo-se como se estivesse em uma cena de um filme de terror. “Isso é ridículo”, murmurou para si mesma, balançando a cabeça em descrença. Ela não podia simplesmente fugir; tinha que descobrir o que estava acontecendo.

Com toda a coragem que conseguiu reunir, Emily se virou e se aventurou de volta ao loft, determinada a enfrentar o que quer que a aguardasse. Ao subir as escadas rangentes, o ar parecia carregado, pesado de expectativa.
Ela parou na entrada, com a escuridão aparecendo diante dela como uma cortina espessa. Reunindo sua determinação, ela acendeu a lâmpada, iluminando o espaço com um brilho quente. A luz piscou momentaneamente, fazendo-a dar um pulo, mas ela se acalmou.

Sua mente se encheu de inúmeras possibilidades – seria um rato? Um encanamento velho? Ou algo ainda mais assustador? Naquele momento, Emily observou um movimento. Mas quando ela se agachou para espiar atrás das caixas, a luz revelou uma forma pequena e redonda aninhada nas sombras.
Emily congelou. Será que era mesmo isso? Sua mente voltou aos dias de infância repletos de alegrias simples – brincar com sua tartaruga de estimação, Tubby. Tubby era seu fiel companheiro, uma presença constante na vida caótica de Emily.

Mas um dia, cerca de 27 anos atrás, Tubby simplesmente desapareceu. Apesar da busca frenética, ninguém tinha ideia de para onde ele havia ido e, por fim, os pais de Emily desistiram, presumindo que ele havia se perdido.
Agora, depois de todos esses anos, Emily se viu olhando para aquela mesma tartaruga. Sua respiração ficou presa quando ela se ajoelhou, afastando cuidadosamente as caixas. Mãos trêmulas alcançaram a pequena carapaça desgastada pelo tempo. Era Tubby. Só podia ser.

“T-Tubby?” A voz de Emily tremeu, carregada de emoção, enquanto lágrimas enchiam seus olhos. As lembranças voltaram à tona – tardes ensolaradas passadas brincando no jardim, observando Tubby navegar lentamente pela grama, a alegria que brotava toda vez que ele avistava seu amiguinho.
E depois havia a mágoa – a profunda tristeza que perdurou por anos, um peso pequeno, porém pesado, que ele carregou até a idade adulta. No entanto, aqui estava Tubby, vivo, depois de trinta longos anos.

Emily ficou sentada ali, atônita, segurando a tartaruga gentilmente em suas mãos. Sua mente se agitava enquanto tentava entender o que estava acontecendo. Como isso era possível? Como Tubby havia sobrevivido todo esse tempo, escondido e esquecido?
A tartaruga parecia mais pesada agora, sua carapaça estava desgastada e arranhada, mas era inegável que estava viva. “Como… como você ainda está vivo?” Emily sussurrou, piscando os olhos em meio às lágrimas. Era difícil de entender.

A tartaruga que estava desaparecida há décadas, o animal de estimação que ela há muito havia perdido a esperança de ver novamente, estava bem aqui, descansando em suas mãos. No início, Tubby não respondeu. Ele havia enfiado a cabecinha no fundo da carapaça, mas depois de um momento, emitiu um som suave e estridente.
O coração de Emily se encheu de alegria com aquele ruído familiar. Era um som que ela não ouvia há anos, mas que lhe trouxe uma enxurrada de lembranças. “Ei, amigo… Você se lembra de mim?” Emily sussurrou, sua voz um pouco trêmula, mas cheia de calor. “Sou Emily, sua melhor amiga.”

Lentamente, a cabeça de Tubby saiu de sua concha e seus pequenos olhos piscaram para Emily. Não houve grandes gestos ou momentos dramáticos, mas a simples conexão do olhar de Tubby com o de Emily parecia uma ponte entre o passado e o presente.
Emily quase podia ouvir os ecos das risadas de sua infância e sentir o calor dos dias ensolarados que passaram juntos. Por um longo tempo, Emily ficou sentada ali, abraçando Tubby, com seu coração transbordando de emoção.

Os estranhos ruídos que a assombravam há dias finalmente fizeram sentido, e o medo que a dominava todas as noites se dissipou, substituído por uma paz profunda e tranquilizadora. Ela não pôde deixar de sorrir com o absurdo de tudo isso, pensando em como estava aterrorizada com um som que acabou se revelando seu amigo há muito perdido escondido no loft o tempo todo.
Com o passar dos momentos, as lembranças de sua infância voltaram à tona. Ela quase podia ouvir a risada dos pais dele ao vê-la brincar com Tubby no quintal. A tartaruga sempre foi lenta, constante e confiável – qualidades que refletiam a vida de Emily antes de tudo se complicar.

Agora, sentada no sótão empoeirado com Tubby, um tesouro que ela achava que estava perdido para sempre, Emily sentiu uma onda avassaladora de nostalgia tomar conta dela. Não se tratava apenas da tartaruga; tratava-se de se reconectar com uma época mais simples e feliz, antes que o peso das responsabilidades adultas tomasse conta de sua vida.
Cada lembrança era como um abraço caloroso, lembrando-a da alegria e da inocência que um dia ela teve, e ela sentiu as lágrimas brotarem em seus olhos enquanto abraçava Tubby com força, grata por esse reencontro inesperado.

Nos dias que se seguiram, tudo começou a parecer diferente para Emily. A casa, que antes parecia grande demais e silenciosa, agora parecia vibrante e viva. Tubby havia se tornado sua sombra, movendo-se lentamente pela casa, assim como fazia quando Emily era criança.
Emily a encontrava nos lugares mais inesperados – embaixo do sofá, escondida atrás das cortinas ou se aquecendo em um pedaço quente de luz do sol perto da janela. Era como se Tubby estivesse explorando a casa de novo, assim como Emily estava redescobrindo partes de si mesma que havia esquecido.

De vez em quando, Emily ouvia o som suave de Tubby se arrastando. Um barulho que antes a aterrorizava agora trazia um sorriso ao rosto dele. Ela não pôde deixar de rir de como se deixou assustar por algo tão inocente como o animal de estimação da infância dele.
No entanto, por trás do riso havia uma percepção mais profunda. Tubby não era apenas um animal de estimação; ele era uma lembrança viva dos dias despreocupados da juventude, simbolizando um pedaço da vida de Emily que ele nem sabia que tinha perdido.

A tartaruga, felizmente inconsciente da alegria que havia reacendido na vida de Emily, continuou sua jornada constante, um passo lento de cada vez. A cada passo, Emily sentia o calor encher seu peito, uma sensação de plenitude que ela não havia percebido que estava faltando.
Pareceu-lhe irônico que a criatura mais lenta que ela conhecia pudesse lhe trazer um conforto tão profundo. Emily não pôde deixar de refletir sobre o quanto a casa havia mudado. O vazio que pairava sobre ela desde a morte de seus pais havia desaparecido, substituído pela presença familiar de Tubby.

O silêncio, que antes parecia pesado e sufocante, agora era preenchido por sons pequenos e reconfortantes – o arrastar suave dos pés de Tubby no piso de madeira, o baque suave quando ele esbarrava em alguma coisa.
Até mesmo a luz da casa parecia diferente, mais quente, como se o sol tivesse decidido brilhar um pouco mais só para eles. Era como se o retorno de Tubby tivesse dado uma nova vida à casa e reavivado uma parte de Emily que estava adormecida há anos.

Ela não conseguia expressar isso em palavras, mas toda vez que via Tubby andando lentamente pela casa, sentia algo dentro dela mudar – algo que estava trancado.
Emily se viu conversando com Tubby como se fossem velhos amigos, retomando o assunto de onde haviam parado. “Você realmente me assustou, amigo”, ela riu, observando como a tartaruga piscava lentamente em resposta. “Pensei que você fosse um fantasma ou algo assim!”

Tubby, é claro, não respondeu, mas havia uma certa sabedoria em seu silêncio, como se ela guardasse segredos que Emily ainda não havia descoberto. Talvez, pensou Emily, tenha sido a simplicidade da existência de Tubby que trouxe tudo de volta ao foco.
Ele se movia em seu próprio ritmo, despreocupado com o mundo ao seu redor e, de alguma forma, isso era exatamente o que Emily precisava. Com o tempo, Tubby se tornou mais do que apenas uma lembrança nostálgica da infância de Emily; ele se tornou um símbolo de resiliência.

A tartaruga conseguiu sobreviver por décadas, escondida no sótão e vivendo sabe-se lá do quê, mas ainda estava aqui. Agora, Emily sentia que ele também estava sobrevivendo. A vida tinha um jeito estranho de surpreender você quando você menos esperava, e o retorno de Tubby foi um desses presentes inesperados do passado, chegando exatamente quando Emily mais precisava.
Toda vez que Emily olhava para Tubby, o calor e a gratidão enchiam seu coração. Era como se a presença constante da tartaruga a ancorasse, lembrando-a de desacelerar e não deixar que a agitação da vida ofuscasse o que realmente importava.

Tubby havia encontrado o caminho de volta para Emily, assim como Emily havia começado a se reconectar consigo mesma. Com essa percepção, Emily sabia que, independentemente dos desafios que viessem pela frente, ela não os enfrentaria sozinha.