Jacob avançou pela vegetação rasteira, com a respiração saindo em rajadas rápidas enquanto os latidos frenéticos de Bernie o guiavam para frente. O cachorro nunca havia quebrado a rotina daquela maneira – nunca havia saído da coleira para o escuro desconhecido. Algo estava errado, profundamente errado, e a quietude sinistra da floresta só aumentava a inquietação de Jacob.
Os galhos arranhavam os braços de Jacob enquanto ele forçava o caminho em direção à clareira à frente. Lá, Bernie permanecia rígido, com a estrutura tensa e a cauda baixa. Ele estava em silêncio agora, com o olhar fixo em algo além das árvores. Um calafrio subiu pela espinha de Jacob quando ele deu um passo cauteloso para se aproximar.
Os olhos de Jacob seguiram a linha de visão de Bernie, e seu coração bateu contra as costelas. Logo após a clareira, a floresta parecia mais escura, mais pesada, como se estivesse escondendo algo que não deveria estar lá. O que Jacob viu em seguida fez com que o chão balançasse sob ele, o peso do perigo invisível o pressionando.
Jacob era um homem de meia-idade que vivia em um pequeno chalé situado nos arredores de uma cidade montanhosa. Embora tenha sido criado em meio ao caos de uma metrópole em expansão, o isolamento sereno dessa pequena cidade o atraiu para cá há uma década.
Por dez anos, Jacob compartilhou seu refúgio isolado com Bernie, o cachorro briguento que ele encontrou tremendo sob a varanda no dia em que comprou a casa. O vínculo que eles criaram era inquebrável, forjado no silêncio e na lealdade, um companheirismo tão inabalável quanto a floresta que os cercava.
Todos os dias, Jacob passava suas horas ensinando matemática aos alunos do ensino médio da cidade. A volta para casa era um ritual que ele adorava – Bernie sempre esperando na porta, com o rabo abanando, ansioso pelo passeio noturno. Era uma alegria simples, familiar e inspiradora, um contrapeso para as exigências do dia.
Suas caminhadas seguiam uma rota familiar, passando por trilhas envoltas em pinheiros imponentes e manchas suaves de luz dourada. Enquanto o mundo se aquietava ao redor deles, Jacob deixava seus pensamentos vagarem, o ritmo dos passos de Bernie ao seu lado era uma constante reconfortante. Era uma noite comum, pelo menos era o que parecia.
Jacob abriu a porta da frente e foi recebido pelo rabo abanando e pelos olhos ansiosos de Bernie. “Muito bem, garoto, vamos”, disse ele, prendendo a coleira enquanto Bernie dançava animado. Com o leve aroma de pinho pairando no ar, eles entraram no abraço fresco da noite.
A rota os levou ao longo da borda da floresta, onde flores silvestres pontilhavam a borda gramada com amarelos e roxos vibrantes. Jacob respirou fundo, saboreando o aroma fresco de pinho misturado com a leve doçura das flores.
Bernie trotava à frente, com seu passo rápido e decidido. De vez em quando, ele fazia uma pausa para cheirar o chão ou dar uma patada na terra macia, seus instintos o guiando. Jacob deixou seus pensamentos vaguearem, seus passos em ritmo com o ranger das folhas sob os pés. Tudo parecia como deveria – pacífico, comum, sem perturbações.
Mas então Bernie congelou. Um rosnado baixo saiu de seu peito, tirando Jacob bruscamente de seu devaneio. O cão estava com as orelhas em pé, com os olhos fixos na borda escura da floresta. Jacob seguiu o olhar de Bernie, olhando para as sombras. Ele não viu nada – apenas os contornos tênues das árvores balançando com a brisa.
“Vamos, Bernie”, murmurou Jacob, puxando suavemente a coleira, com uma pontada de inquietação que lhe dava calma. Mas antes que ele pudesse levá-los para casa, Bernie fugiu. A coleira foi arrancada das mãos de Jacob enquanto o cão avançava pela floresta, e sua força repentina fez com que Jacob caísse no chão, com o coração batendo forte.
“Bernie, pare!” Jacob gritou, levantando-se, mas o cão já era um borrão de movimento, desaparecendo na vegetação densa. A coleira foi arrastada atrás dele, prendendo-se nos galhos enquanto ele desaparecia na floresta.
O coração de Jacob acelerou. Ele ficou congelado por um momento, dividido entre chamar novamente e o medo repentino de que o que quer que tivesse chamado a atenção de Bernie pudesse não ser algo que ele quisesse enfrentar. Jacob hesitou, com todos os instintos o incentivando a voltar para trás, retornar para casa e pedir ajuda.
Mas a ideia de Bernie – o leal Bernie – sozinho ali o levou a seguir em frente. Ele pegou uma vara próxima para se confortar e entrou cautelosamente na floresta. A trilha tranquila que eles haviam percorrido tantas vezes agora parecia estranha, o silêncio pesado, quebrado apenas pelo som distante dos latidos frenéticos de Bernie.
Jacob se embrenhou na floresta, guiado apenas pelos latidos distantes de Bernie. Ele passou por arbustos e moitas, os galhos ásperos prendendo sua jaqueta e arranhando seus braços. A floresta aqui era mais densa do que ele jamais ousara se aventurar. Cada passo era cauteloso, mas sua determinação de encontrar Bernie superou o medo.
O som dos latidos de Bernie cessou de repente, substituído por um silêncio assustador. A quietude era sufocante, quebrada apenas pelo farfalhar das folhas sob as botas de Jacob. Seu coração disparou quando a ausência da voz de Bernie o deixou nervoso. Ele acelerou o passo, seguindo as fracas marcas de patas no solo macio.
Ao chegar a uma pequena clareira, Jacob parou. Ali, no centro, estava Bernie, rígido e imóvel, com o olhar fixo em algo à frente. O rabo do cachorro estava abaixado, sua linguagem corporal estava alerta, mas silenciosa. Jacob prendeu a respiração quando se aproximou, seus olhos seguindo a linha de visão de Bernie.
E então, ele o viu. Um urso. Imponente e maciço, seu pelo escuro ondulava enquanto ele se movia ligeiramente, olhando para eles. Jacob ficou paralisado, com a mente acelerada. Ele já havia lido sobre ursos – como eles podem ser perigosos e imprevisíveis -, mas nada disso o preparou para o medo cru que agora o dominava.
Bernie não se moveu, seu corpo estava tenso e inabalável. Jacob queria agarrá-lo, fugir, mas suas pernas pareciam de chumbo. O urso deu um passo à frente, e seu tamanho fez com que o chão parecesse tremer. Jacob entrou em pânico e, instintivamente, puxou a coleira de Bernie, colocando-se entre o cão e a fera.
Ele ficou ali, com o coração aos pulos, segurando a coleira de Bernie com força. Ele sabia que correr seria inútil – os ursos eram rápidos, mais rápidos do que ele jamais poderia esperar ser. Ele se preparou, pronto para o pior, com o instinto primordial de proteger Bernie sobrepujando seu terror.
O urso se moveu novamente, mais perto dessa vez. Jacob cerrou os punhos, todos os músculos de seu corpo se retesaram de medo. Mas, então, o urso fez algo que Jacob não poderia ter previsto. Parou bem perto dele, com a pata maciça estendida para tocar sua perna – suavemente, quase de forma hesitante.
A respiração de Jacob ficou presa, a confusão se misturando ao medo. O toque do urso não era agressivo; era cauteloso, quase deliberado. Ele ficou congelado, sem saber se deveria recuar ou ficar parado. Bernie também pareceu perceber a estranheza da situação, permanecendo calmo, mas atento.
O urso baixou a pata e seu olhar encontrou o de Jacob. Havia algo em seus olhos – algo que não era fúria selvagem ou agressão. O medo de Jacob diminuiu, substituído por um lampejo de curiosidade. Ele permaneceu enraizado, seus instintos gritando para fugir, mas sua mente não estava disposta a destruir o momento frágil.
A floresta, tão silenciosa antes, parecia prender a respiração. Jacob olhou para Bernie, que estava ao seu lado, com a cauda balançando levemente. Qualquer que fosse o encontro, não era o que ele esperava. O urso, impossivelmente próximo, virou ligeiramente a cabeça, como se estivesse esperando algo dele.
Esse gesto inesperado parecia uma mensagem silenciosa que atravessava a divisão de espécies. O toque do urso foi gentil, como se ele estivesse tentando compartilhar algo profundo com Jacob sem pronunciar uma única palavra. O comportamento gentil do urso entrava em conflito com as histórias de ferocidade que Jacob tinha ouvido.
O urso virou suavemente a cabeça para a floresta e voltou a olhar para Jacob, como se estivesse tentando comunicar algo. Jacob ficou paralisado, incapaz de entender o significado desse gesto. O urso andou por alguns passos, depois parou e virou a cabeça para olhar para ele.
Parecia quase deliberado, como se o urso o estivesse convidando a seguir. A cada pausa, o urso esperava pacientemente, com o olhar firme e expectante, como se tivesse algum propósito ou caminho em mente que esperava que ele compartilhasse.
Os olhos do urso se fixaram nos de Jacob, e seu coração disparou de medo. Ele estava frente a frente com uma criatura que poderia acabar com sua vida em segundos. Todos os instintos gritavam para que ele corresse, agarrasse Bernie e voltasse para a segurança de sua casa de campo.
Mas Jacob não conseguia se mover. Seu corpo estava congelado no lugar, preso entre o desejo primordial de fugir e a atração bizarra do olhar do urso. Ele segurou a coleira de Bernie com força, com a respiração curta, tentando pensar em meio ao pânico crescente. E então ele viu: a perna do urso.
Um corte profundo marcava a pata traseira do urso, com as bordas cruas e sangrando. Por um momento, o medo de Jacob se transformou em algo mais complexo: pena. O urso não o estava perseguindo – estava mancando, ferido e vulnerável. Cortes revestiam sua boca como se ele tivesse lutado pela vida.
Os pensamentos de Jacob se chocaram – ele deveria correr agora, enquanto o urso hesitava, ou ele estava realmente buscando sua ajuda? Não fazia sentido, nada daquilo fazia. Mas a tristeza nos olhos do urso falou mais alto do que a lógica, acalmando o terror o suficiente para que Jacob agisse.
Tremendo, ele se levantou do chão e pegou o celular. Seus dedos tremiam enquanto ele digitava uma mensagem apressada para um colega de trabalho: “Algo estranho. Um urso ferido me levou mais fundo na floresta. Se eu não der notícias em breve, mande ajuda” Ele clicou em enviar e se virou para Bernie.
“Vá, Bernie”, disse Jacob, ajoelhando-se para encontrar os olhos ansiosos do cão. “Vá para a delegacia de polícia. Peça ajuda. Eles saberão que sou eu se você aparecer.” Sua voz estava trêmula, mas ele forçou um tom calmo. Bernie hesitou, choramingando baixinho, mas Jacob apontou com firmeza para o caminho.
Bernie latiu uma vez e depois correu para as sombras, sua lealdade superando a hesitação. Jacob ficou observando até o cão desaparecer, com o peito apertado pela ideia de deixar Bernie sozinho. Mas agora, era apenas ele e o urso.
O urso deu alguns passos mancando, parando para olhar de volta para Jacob com uma urgência que não podia ser ignorada. Seus movimentos eram lentos, deliberados e cheios de dor. Desafiando cada fragmento de instinto de sobrevivência, Jacob o seguiu. Sua pulsação rugia em seus ouvidos à medida que ele se aprofundava na floresta.
Os galhos prendiam suas roupas e o chão ficava irregular sob suas botas. A luz fraca pintava tudo em tons de cinza, com as árvores imponentes formando um dossel ameaçador acima. O urso prosseguia, com seu andar difícil e pausas ocasionais que revelavam sua exaustão.
Jacob não conseguia ignorar o absurdo de sua situação – ele estava seguindo um urso selvagem, nas profundezas da floresta, guiado apenas por seus passos claudicantes e olhares de súplica. Todos os pensamentos lógicos lhe diziam para voltar atrás, mas ele já estava muito envolvido. Voltar atrás agora parecia impossível.
O urso diminuiu a velocidade quando se aproximaram de uma clareira, com movimentos deliberados, mas tensos. Jacob ficou alguns passos atrás, com os olhos correndo nervosamente pela floresta sombria. Então, o urso parou abruptamente, sua cabeça enorme se virou para algo escondido atrás de uma árvore grossa e antiga. Seu olhar era agudo e inabalável.
Dividido entre ficar escondido e descobrir o desconhecido, ele se aproximou, movido pelo fascínio de testemunhar algo extraordinário. A mente de Jacob fervilhava de perguntas. Por que o urso a havia levado a esse exato local na natureza?
Para a surpresa de Jacob, ele encontrou um acampamento na clareira. Alguém tinha estado lá recentemente – havia uma fogueira e uma barraca, o que indicava atividade humana recente. Essa descoberta foi ao mesmo tempo um alívio e um quebra-cabeça, aumentando o mistério de quem havia estado aqui tão profundamente na floresta e por quê.
Ao explorar o acampamento abandonado, Jacob notou que a barraca havia sido deixada aberta às pressas. Os equipamentos espalhados e nenhum sinal do campista fizeram com que ele se perguntasse por que eles haviam partido tão repentinamente. Sua curiosidade aumentou quando ele viu equipamentos caros e câmeras jogados no chão.
O acampamento estava desordenado, com roupas e suprimentos espalhados como se tivessem saído às pressas. Jacob ficou olhando para o caos, cada item sugerindo uma história que ele não conseguia entender. Enquanto Jacob estava ocupado tentando descobrir o que poderia ter acontecido no acampamento, de repente ele ouviu um grunhido baixo atrás de si.
O urso estava bufando e arranhando o chão perto da barraca. Jacob decidiu ir até lá e verificar o que havia atraído a atenção do urso. Ao dar uma olhada no chão, a mão de Jacob roçou em algo incomum: um diário velho e desgastado enterrado sob agulhas de pinheiro.
A capa de couro tinha um urso em relevo, sugerindo os segredos que havia dentro. Parecia fora de lugar, mas intrigante, importante, incitando-o a descobrir seu conteúdo. Ao abrir o diário, Jacob foi recebido por uma caligrafia viva que detalhava a jornada de um viajante na floresta.
O escritor foi cativado pelos estranhos sons da floresta escura, cada ruído mexendo com algo profundo dentro dele. Jacob notou que os esboços do diário haviam mudado, agora focados em ursos – mas esses não eram desenhos normais.
Os registros do diário tornaram-se mais detalhados, descrevendo os comportamentos estranhos dos ursos e sua presença inquietante na floresta. O fascínio do escritor por esses animais se tornou sombrio, e suas palavras foram preenchidas com uma mistura de admiração e medo.
À medida que a história prosseguia, o escritor ficou obcecado em encontrar um lendário filhote de urso branco, que se dizia viver nas partes mais escuras da floresta. O que começou como uma busca pela descoberta se transformou em uma obsessão perigosa, seu entusiasmo se transformando em uma caçada implacável.
O último registro no diário fervilhava de excitação febril, descrevendo sua primeira visão do filhote mítico. Seu registro o chamava de “o mito em carne e osso”, e a caligrafia parecia vibrar de emoção. Esse momento marcou um ponto de virada em sua grande aventura.
À medida que os registros mudavam, o viajante detalhava seus planos meticulosos para capturar o filhote usando iscas e armadilhas. Redes, câmeras e sedativos estavam todos no lugar, revelando uma estratégia cuidadosamente elaborada. Sua busca por aclamação pessoal ofuscou qualquer apreciação verdadeira pela criatura ou por seu habitat.
O coração de Jacob se acelerou ao virar as páginas do diário. Desenhos de gaiolas e anotações sobre armadilhas mostravam o desejo obsessivo do viajante de capturar o filhote a qualquer custo. O diário revelava o plano perturbador do viajante, sem nenhuma preocupação com a segurança do filhote.
Jacob sentiu uma mistura de repulsa e determinação. Segurando o diário, ele sabia que tinha de agir para impedir esse ato perigoso. Jacob folheou o diário com urgência, seus olhos percorrendo mapas e rabiscos em busca de qualquer indício de onde estavam as armadilhas ou o último local conhecido do filhote.
Os dedos de Jacob congelaram em uma página que mostrava uma rocha gigante, com suas bordas irregulares desenhadas com detalhes meticulosos. As anotações do viajante ao lado descreviam o local como a peça central de suas armadilhas – um lugar onde os rastros de cheiro atrairiam o mítico filhote de urso branco para uma armadilha de queda.
Jacob jogou o diário no chão em sinal de frustração, com a respiração irregular enquanto examinava a floresta ao seu redor. A clareira não revelava nada que se assemelhasse a um rastro ou caminho. Já havia escurecido, e o desespero o atormentava. Se as armadilhas estivessem ativas, a vida do filhote estava por um fio.
Ao voltar-se para o urso, Jacob sentiu uma estranha onda de esperança. “Você precisa me ajudar”, disse ele em voz alta, com a voz trêmula. Ele fez um gesto para as árvores ao redor. “Você pode farejar? Pode me levar até a rocha?” Era absurdo, implorar a um animal selvagem, mas ele não tinha outra ideia melhor.
Para sua surpresa, o urso se moveu. Ele abaixou o nariz para o chão, farejando a terra e as árvores próximas com deliberada concentração. O coração de Jacob bateu forte quando o urso começou a andar, seguindo uma trilha invisível que Jacob não conseguia detectar. O urso fazia uma pausa de vez em quando, farejando o ar antes de continuar por um caminho estreito.
Jacob rapidamente pegou um galho grosso do chão, agarrando-o com força. Não era muito, mas o fez se sentir um pouco menos indefeso. Ele se preparou, cada passo era pesado com a incerteza. A floresta ficou mais escura ao redor deles, o ar estava impregnado com o cheiro de terra úmida e pinho.
O caminho era estreito e tortuoso, os galhos arranhavam os braços de Jacob enquanto ele tentava acompanhar o ritmo do urso. O som de galhos quebrando e folhas triturando preenchia o silêncio, ampliando sua sensação de inquietação. Ele apertou sua arma improvisada com mais força, com os nós dos dedos brancos.
Os minutos se transformaram em horas enquanto o urso o levava para o interior da floresta. De repente, as árvores ficaram mais finas e Jacob avistou a silhueta inconfundível da rocha gigante. Ela se erguia à frente, com sua superfície recortada parcialmente escondida pela densa folhagem. Sua respiração ficou presa na garganta.
O urso parou na borda da clareira, farejando o ar novamente. Jacob hesitou, examinando a área em busca de sinais de armadilhas. Seus olhos percorreram o chão, procurando por qualquer distúrbio na terra. O pensamento de que o filhote de urso branco estava em perigo o empurrou para frente.
O leve cheiro de algo afiado e metálico chegou ao seu nariz – uma isca de cheiro, ele percebeu. As armadilhas estavam próximas. O pulso de Jacob se acelerou, a adrenalina inundando suas veias enquanto ele se aproximava da rocha. Cada instinto lhe dizia que o perigo estava próximo, mas ele não podia parar agora.
Jacob se aproximou cada vez mais da rocha gigante, segurando o galho com mais força, enquanto cutucava o chão com cautela antes de cada passo. Ele examinou a área, seus olhos percorrendo a terra em busca de sinais de armadilhas. Cada passo era cuidadoso, deliberado, enquanto ele lutava para manter a respiração estável.
Ao chegar à rocha, Jacob olhou para baixo e sentiu seu estômago revirar. Um filhote de urso branco estava preso em uma gaiola no fundo de uma armadilha, com seu corpo minúsculo enrolado em si mesmo. O filhote gemia baixinho, seus movimentos eram fracos, seu pelo nevado estava manchado de sujeira e sangue.
A visão piorou. Perto dali, outros ursos estavam presos em armadilhas – alguns presos em mandíbulas de aço, outros confinados em gaiolas. Seus ferimentos eram visíveis, suas lutas eram inúteis. O coração de Jacob disparou, uma onda de náusea o invadiu quando a crueldade da cena o atingiu como um golpe.
Ajoelhando-se, Jacob pegou a armadilha mais próxima, com as mãos trêmulas tentando abri-la. Os mecanismos eram pesados e bem presos, projetados para resistir até mesmo à força desses animais poderosos. Sua frustração aumentava à medida que seus esforços se mostravam inúteis.
Naquele momento, um barulho rompeu a quietude – um murmúrio distante de vozes e o ranger de botas nas folhas. Jacob ficou paralisado, com a cabeça voltada para o som. O viajante. Ele estava chegando e não estava sozinho. A urgência de agir se contrapôs a um medo paralisante.
Jacob rapidamente se abaixou em um trecho de arbustos, o chão embaixo dele estava escorregadio de lama. Seu pé escorregou e ele caiu com um ruído alto que quebrou o silêncio. O barulho ecoou como um farol e, quando ele olhou para cima, a cabeça do viajante se virou bruscamente em sua direção.
Os olhos do viajante se fixaram em Jacob, e a mudança em sua expressão foi de arrepiar. A surpresa cintilou por um breve momento, antes de ser substituída por algo mais sombrio – um cálculo inquietante, como se ele estivesse tentando entender exatamente por que Jacob estava ali. A suspeita deu lugar a uma intenção fria.
O coração de Jacob bateu forte quando o viajante fez sinal para sua equipe. Eles avançaram com precisão, com suas armas apontadas para Jacob. A voz do viajante era baixa e imponente, com um tom ameaçador. “Ora, ora. Parece que temos um convidado inesperado.”
O medo que tomou conta de Jacob era diferente de tudo o que ele já havia sentido antes. Seu corpo tremia, a pulsação rugia em seus ouvidos. O brilho afiado das armas era impossível de ignorar. Todos os instintos de sobrevivência gritavam para que ele corresse, mas ele estava enraizado no local, paralisado pelo terror.
O viajante deu mais um passo à frente, com o olhar frio e implacável. “Você não está aqui por acaso”, disse ele, sua voz cortando o silêncio tenso. “Então me diga – o que exatamente você esperava conseguir?” A respiração de Jacob ficou presa enquanto ele tentava formar palavras, sua mente correndo em busca de uma saída.
Jacob se levantou cambaleante, agarrando-se ao galho grosso como se fosse uma tábua de salvação. Sua voz ficou rouca de emoção quando ele gritou: “Vocês não podem continuar machucando esses animais! Eles não merecem isso!” Ele levantou o galho em direção ao viajante, com as mãos trêmulas, mas com a determinação inabalada.
O viajante soltou uma risada cruel, um som zombeteiro que ecoou pela clareira. “Você vai me impedir com isso?”, ele zombou, apontando para o galho. “Patético. Você acabou de assinar sua própria sentença de morte, tolo. Acha que vai sair daqui vivo?”
As palavras do viajante causaram um calafrio na espinha de Jacob, mas ele não abaixou o galho. Ele se manteve firme, com o coração batendo forte, o peso da situação o esmagando. O viajante apontou sua arma para Jacob e sua equipe se aproximou, com a intenção tão clara quanto o aço frio em suas mãos.
Mas antes que o viajante pudesse disparar, a floresta explodiu em ruídos – sons estridentes, luzes piscando entre as árvores e os latidos frenéticos de Bernie ecoando como um grito de guerra. O viajante perdeu a compostura, seus olhos se arregalaram quando o som de veículos policiais se aproximando invadiu a clareira.
“Polícia!”, gritou uma voz, cortando a tensão. O caos se instalou enquanto o viajante e sua equipe giravam em pânico. Eles tentaram fugir, abandonando suas armadilhas e equipamentos, mas já era tarde demais. Os policiais entraram na clareira, seus comandos eram rápidos e autoritários.
Em poucos instantes, o viajante foi jogado no chão, com sua arma se espatifando enquanto ele gritava maldições na noite. Sua equipe não se saiu melhor, sua fuga foi impedida pela ação rápida da patrulha florestal. Jacob ficou aliviado quando o perigo finalmente desapareceu.
Bernie correu em direção a Jacob, com a cauda balançando furiosamente. Ele pulou, lambendo o rosto de Jacob como se dissesse: “Agora você está seguro” Jacob se ajoelhou, abraçando o cachorro, e o alívio avassalador lhe trouxe lágrimas aos olhos. “Bom menino”, ele sussurrou, com a voz embargada.
Quando os policiais e a patrulha florestal começaram a desmontar as armadilhas, os ursos feridos foram cuidadosamente libertados de suas gaiolas e armadilhas. O filhote de urso branco foi carregado por um guarda florestal, com seu pequeno corpo frágil, mas vivo. Perto dali, a mãe ursa ferida mancava em direção a Jacob uma última vez.
A ursa fez uma pausa, sua estrutura maciça se abaixou ligeiramente quando seus olhos encontraram os de Jacob. Naquele momento, Jacob jurou que viu gratidão – algo profundo e sem palavras – antes que ela se virasse e mancasse de volta para se juntar ao filhote e à família nas árvores à frente. Jacob ficou observando, com o peito apertado de emoção.
Pela manhã, a notícia havia se espalhado. A bravura de Jacob, a lealdade de Bernie e o resgate dos ursos se tornaram o assunto da cidade. Enquanto ele passeava com Bernie pelas ruas movimentadas, um transeunte o chamou de herói. Jacob simplesmente sorriu e respondeu: “Eu estava apenas seguindo o exemplo de um bom amigo”